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terça-feira, 14 de junho de 2016

Virgem Negro | Fotos



Virgem Negro                                  Ana André
Ermida de N. Srª. de Guadalupe           11 Junho a 02 Julho

“O trabalho de pintura e de desenho requer uma preparação prévia. Conceptual e física-escolher o assunto e o suporte.
A folha virgem- sem contradição, sem mácula.
Negro-sem luz. Noite.

A origem da imagem é questionada, protegida do olhar alheio, o seu poder é tanto que não se pode olhar longamente.
A pintura de paisagens nocturnas é começada do negro para aluz. A noite é o seu princípio.
As superfícies têm dimensões variadas, estão preparadas para dar uma boa aderência à tinta. As marcas deixadas pelo processo de construção e preparação das superfícies são parte das condicionantes, estruturam, estão presentes ao longo de todo o processo e influenciam as decisões.
O projecto será apresentado sobre a forma de livro. As folhas são superfícies de pintura preparadas para receber o traço, o registo (ou o rasto) da paisagem. O livro é a junção de várias superfícies, coladas,agrafadas, pintadas…mas não definitivamente acabadas. A articulação entre as coisas é importante, pode ser alterada, as folhas podem ser tiradas e recolocadas.

O que se vê e o que não se vê são ambos partes importante. A relação entre cheio e vazio.”
Ana André

Maria Filomena Moldera propósito de um texto de Walter Benjamin diz-nos: ‘O pintor, pelo seu gesto de manchar, revela a visibilidade que a palavra permite e a mancha atrai, isto é, há uma apetência da mancha pela forma. O pintor terá de descobrir a palavra que convém à mancha(à língua que ela fala), ou melhor terá de ser descoberto por ela,(…) deixando-se atravessar pela força da apresentação. (1)

Ana André apresenta-nos um livro colocado no altar da Ermida de N. Srª de Guadalupe que estando aberto ocupa todo o altar. Neste livro as páginas não apresentam qualquer imagem e possuem diferentes tons de negros.
Ana André pensa cada folha do livro como um negro virgem. O negro como o fundo da imagem que é um começo, o começo de uma paisagem nocturna que cabe ao espectador imaginar. O negro como o número zero da imagem.A tinta e forma como ela é aplicada é já por si uma imagem. A forma como essa imagem se nos apresenta é que é diferente colocando-nos a nós questões sobre como percepcionar a imagem.

Ana André estabelece na sua intervenção na Ermida uma relação com o Mosteiro Real de Santa Maria de Guadalupe na província de Cáceres. No séc. XIV é dada à Ordem dos Jerónimos a igreja do santuárioonde se encontra exposta a imagem da Virgem negra de N. Srª. de Guadalupe. Só nos é permitido ver a imagem de face negra alguns minutos como se o seu poder fosse tanto que nos causasse dano olhá-la longamente. Nesse mosteiro os monges copistas fabricavamlivros magnífica e pacientemente manuscritos e,de tão grandes e pesados,impunha-setransportá-los com o auxílio de rodas, livros com um tamanho fora da escala humana. Ana André, ao visitar o Mosteiro, ficou fascinada com estes livros, guardados atrás de um vidro e numa semi-penumbra.

Segundo alguns investigadores o culto mariano é uma transformação espontânea de cultos mais remotos ligados à veneração da Terra Mãe.
No Egipto o culto da deusa Isís está ligado às potências femininas que regem os vivos. Isís é um símbolo do saber eterno que ata a consciência do Homem aos seus planos superiores sendo recordada através da imagem da mãe celeste que amamenta o seu filho.
De acordo com algumas fontes foi o Concílio de Éfeso, em 431, que deu início oficial proclamando a virgem Santa e Mãe de Deus recebendo o nome de Theotokos. É através desta ideia de maternidade divina que fará o seu caminho na devoção e na iconografia cristãs.
Na página do MNAC a propósito da exposição de Patrícia Corrêa pode ler-se “Maria é um nome próprio de origem incerta e um dos mais comuns no mundo inteiro. Para muitos um nome bíblico, de forte conotação com o cristianismo, que deu origem ao culto mariano numa construção teológica e devocional copiosa, tornando Maria na mãe dos Cristãos, ícone de humildade, devoção, pureza, coragem e fé. Mas Maria é também Madonna, (…)versão italiana de Minha Senhora, um termo de origem áulica, isto é, reporta a senhora de origem cortesã, trabalhada pela poesia trovadoresca.”

Mas voltemos à pintura. Ana André utiliza habitualmente o médium da pintura. Poderíamos imaginar que já se terá colocado a seguinte questão, uma e outra vez: ‘O que é a pintura e como se deve pintar para que ela funcione como pintura?’
Poderíamos pensar que estamos perante uma abordagem da imagem que nos remeteria para um conjunto de questionamentos que pertencem à designada pintura abstractauma vez que a artista nos apresenta um livro com páginas pintadas de negro mas não é isso que se trata neste caso.
A pintura durante vários séculos esteve ligada a uma expressão da criatividade e a uma crença na genialidade do pintor.
Depois de 1960 começa a existir uma nova abordagem analítica da pintura que já não parte do postulado que a pintura possui uma essência que se daria a conhecer. Num artigo intitulado Radical Painting Johannes Meinhart analisando a pintura abstracta diz-nos que para a Radical Painting de finais dos anos 70 e anos 80 “a pintura deveria ser não figurativa, não icónica, ou seja, não deveria dar a ver qualquer imagem ou sistema de signos; não deveria fazer referência a nada exterior a si própria, não deveria mostrar nada para além de si própria. (…) Para a pintura analítica a tinta, a matéria cromática, também não possuía qualquer valor próprio (…) mas no entanto a tinta enquanto cor tornou-se uma qualidade última, irredutível, mesmo se material e não-idealista. (…)”(2)
Perante a obra que Ana André nos apresenta temos ‘a experiência qualitativa da cor, as complexas interacções da percepção, sensação, experiência e cor na sua relação com o suporte, o espaço, a sua própria matéria e o observador que a percepciona’ (…)(3)mas há um conteúdo semântico, expressivo e significativo, afastando-a do posicionamento da pintura analítica.
                                                                                     Susana de Medeiros

(1) MOLDER, Maria Filomena, Matérias Sensíveis,Lisboa, Relógio d’Água, 1999
(2)(3)MEINHART, Johannes, in Radical Painting, Pintura:abstracção depois da abstracção, Fundação de Serralves&Público, 2005, pág. 86



Esta é a segunda exposição do ciclo Derivas Continentais, um projecto da autoria e produção de Susana de Medeiros e Conceição Gonçalves.














folha sala ana andre.docx
A mostrar folha sala ana andre.docx.
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